Diz Teresa Villaverde, realizadora, argumentista e produtora portuguesa que “uma forma importante de dar voz é deixar criar”. É num artigo de opinião publicado em fevereiro passado no jornal Público que o expressa, depois de ter ouvido centenas de crianças do interior do país para escolher a rapariga protagonista do seu próximo filme. Após ter contactado com centenas de crianças, a realizadora pediu a cerca de 200 a produção de um vídeo em que incluíssem a leitura de um excerto de um livro à escolha e respostas a duas perguntas: “o que é que as fazia mais felizes e o que é que as preocupava mais no futuro”.
Em tempo de pandemia e já depois da guerra na Ucrânia ter começado, as crianças falaram de vários assuntos, mas não foi a pandemia o mais referido, foi antes o medo do desemprego no futuro. E foi isto, diz Teresa Villaverde, que mais a espantou. Crianças de 10 e 11 anos angustiadas com a possibilidade de não terem emprego.
Depois desta experiência, a produtora deixa vários alertas no seu artigo de opinião. Salientamos aqui dois, pela ligação com o projeto bYou:
– “Temos que as deixar falar do que as preocupa. Não me parece que seja facultativo, nem me parece que seja uma coisa que possa esperar. Não lhes podemos atribuir angústias e preocupações que elas talvez nem tenham, têm de ser elas a dizer-nos o que as preocupa”;
– “Temos o dever cívico de fazer alguma coisa urgente, e em larga escala, pelas crianças do nosso país. Sem estudos infinitos nem burocracias, só urgência, para devolver a alegria e a confiança às nossas crianças.”
E como “dar voz é deixar criar, Teresa Villaverde apela para que “entreguem câmaras de vídeo nas escolas, deixem as crianças fazer os seus próprios filmes, contar as suas próprias histórias, falar do que as preocupa. Contratem gente do cinema para dar uma ajuda. Que as crianças possam fazer teatro em todas as escolas. Contratem actores e encenadores. Deixem as crianças aprender a tocar um instrumento, a aprender a tocar em grupo. Contratem músicos para darem aulas em todas as escolas. Dêem mais atenção ao desporto, aos desportos em grupo. Deixem as crianças escrever textos livres, falar sobre o que escreveram. Se for necessário, por uma questão de horário escolar, não tenham problemas em deixar cair disciplinas curriculares que podem esperar. Tempos excepcionais exigem medidas excepcionais.”.
São as vozes, os interesses e as preocupações das crianças que também pretendemos captar no projeto bYou. E foi este trabalho que já começamos em escolas de todo o país.

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